domingo, outubro 10

A sensação

Bonnie
Se eu fechar os olhos, consigo lembrar da doce sensação dos ventos batendo em mim e bagunçando, de maneira brincalhona, todos os meus fios de cabelo, um a um, porém ao mesmo tempo. Ele entra em mim e passa por todos os meus membros. Posso sentí-lo, mas nunca vê-lo. É incrível, como se a sensação invadisse meu corpo apesar de estar apenas em minha memória, viva, esperando uma simples vontade para ser relembrada.

Diferentes pessoas imploram inutilmente para que eu lhes conte como é, mas cansei de tentar. Agora, quando me pedem novamente, já abro um disfarçado sorriso torto ao lembrar da sensação de ventania e respondo com apenas uma palavra: “impossível”. Tentei infinitas vezes explicar a mim mesmo, incansavelmente encontrar uma definição, como uma criança teimosa que não desiste até conseguir o que quer. Nenhuma das descrições que encontrei, e apenas imagino que cheguem perto de estarem certas, faz algum sentido. É como se sua alma estivesse a mostra, dominando-o, alcançando o inalcançável, atingindo o inatingível, com frio e calor, acordada e dormindo, sonhando e mais do que tudo vivendo.

Por mais que eu me lembre, da maneira que for, sei que não vou chegar aquilo como realmente era apenas através de minha memória, por isso sempre tento voltar para a mesma posição em que estava quando a senti. Sempre volto ao mesmo lugar, tanto em mente quanto em corpo, buscando mais daquela embriagável sensação. Queria poder viver toda a minha vida sob o efeito dela, mais sei que não posso.

Busco cada vez mais fazer com que dure ao menos um segundo a mais que da última vez, um único, que nunca consigo. Nunca parece ser suficiente pois sempre que realmente percebo que ela está lá, acaba. Acredito que é isto que a torna tão especial e revigorante, o fato de sempre durar o pouco necessário para ser inesquecível.

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